Cheque em Branco de R$ 500 Milhões: Igor Normando e o Manual Barbalho de Endividamento

Cheque em Branco de R$ 500 Milhões: Igor Normando e o Manual Barbalho de Endividamento

Por Cônica do Norte

Ah, Belém, a cidade das mangueiras eternamente maduras e das chuvas que lavam as ruas – mas, ao que parece, não as contas públicas. Em um movimento que soa como eco do Palácio do Governo estadual, o prefeito Igor Normando (MDB) resolveu pedir um empréstimo de R$ 500 milhões à Câmara Municipal, aprovado sem pestanejar pelos vereadores. Não estamos falando de um cafezinho caro ou de uma reforma de praça: é meio bilhão de reais, equivalente a uma fatia generosa do orçamento anual da capital paraense. Mas o que intriga – e irrita – é a forma: um pedido vago, sem detalhar onde cada centavo vai parar. É como entregar um cartão de crédito sem limite a um adolescente hiperativo, torcendo para que ele não gaste tudo em doces. Normando, recém-empossado em 2025 após uma eleição apertada, parece seguir o manual do “confie em mim, sou do MDB” – partido que, aliás, domina o tabuleiro político paraense como um rei de xadrez entediado. Essa aprovação unânime na Câmara não é só um carimbo; é um alerta vermelho para a democracia local. Vamos dissecar isso em três capítulos, com o sarcasmo merecido, para entender como o “governar sem mapa” virou receita de sucesso no Pará.

O Pedido Fantasma – Transparência? Que Palavra É Essa?

Imagine a cena: o prefeito Normando, com seu sorriso de campanha ainda fresco, envia um projeto à Câmara pedindo R$ 500 milhões para “investimentos em infraestrutura e saneamento”. Soa nobre, não? Mas espere aí: onde estão os projetos específicos? Os editais de obras? Os mapas de drenagem para evitar que Belém vire Veneza amazônica todo ano? Nada. É um cheque em branco, daqueles que fariam inveja a um banqueiro suíço. Aprovado em sessão relâmpago, com vostos contrários de PL e PSOL, o empréstimo foi justificado com generalidades que caberiam em um post de rede social: “melhorar a qualidade de vida”. Ah, sim, porque nada grita “qualidade de vida” como endividar a cidade sem prestar contas.

Essa falta de detalhes não é acidente; é estratégia. Normando, ex-deputado e secretário de Helder Barbalho, sabe que a Câmara, dominada por aliados, não vai pedir comprovante de residência fiscal. Lembra-se da LOA 2026, enviada em outubro de 2025 com R$ 6,7 bilhões previstos? Lá, saneamento ganha R$ 940 milhões, mas sem breakdown. É o mesmo truque: prometer o céu sem mostrar a escada. Críticos do PL já questionam se isso não é só uma forma de inflar o caixa para eleições futuras – afinal, com meio bilhão na manga, dá para pavimentar ruas e corações eleitorais. Ironia das ironias: enquanto a população lida com ruas lagas que transformam bairros em piscinas olímpicas, o prefeito pede confiança cega. Transparência? Em Belém, parece ser um luxo europeu.

Se o dinheiro é para o bem comum, por que esconder o destino? É como cozinhar um tacacá sem contar os ingredientes – no final, pode sair indigesto para o contribuinte. Essa opacidade não só mina a fiscalização; ela perpetua um ciclo onde vereadores viram cúmplices involuntários, aprovando sem ler o que estão aprovando. E o povo? Fica com a conta no futuro, pagando juros de um empréstimo que poder ser herói ou vilão das contas públicas.

O Receituário Barbalho: Da ALEPA ao Carimbo Automático

Agora, vamos ao mentor espiritual dessa novela: o governador Helder Barbalho (MDB), que transformou a Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA) em uma extensão de seu gabinete. Desde 2019, Helder pediu – e obteve – uma cascata de empréstimos, totalizando mais de R$ 21 bilhões nas duas gestões. É um festival de endividamento que faria o FMI aplaudir de pé. Vamos listar os maiores hits, cortesia de aprovações relâmpagos na ALEPA, para você ter noção do padrão “confie no chefe”:

  • R$ 4 bilhões (2025): Para “infraestrutura, saneamento, saúde e cultura”. Detalhes? Um resumo de PowerPoint vago, aprovado em abril como se fosse solicitação de lanche. Oposição chamou de “cheque em branco estratosférico”.
  • R$ 800 milhões (2022): Segunda etapa do “Asfalto por Todo o Pará”. Oitavo empréstimo da era Helder, somando R$ 3,4 bi até ali. Obras? Alguns buracos tapados, mas sem auditoria pública.
  • R$ 400 milhões (2021): Programa “Creches por Todo o Pará”. Construção de creches via cooperação municipal – soa bem, mas onde estão as 500 unidades prometidas? Aprovado em regime de urgência, como se o mundo acabasse sem ele.
  • R$ 400 milhões (2020): Rodovia da Liberdade, ligando Belém a Marituba. Primeira etapa saiu do papel, mas o resto? Um mistério envolto em asfalto fresco.
  • R$ 3,8 bilhões (2024, dividido em três operações): Saneamento e preservação de microbacias na RMB. Aprovado com garantia da União, mas sem cronograma de execução. Somou R$ 2 bi só em 2024.
  • Outros clássicos pandêmicos (2021): R$ 800 milhões para “COVIDPARÁ” e Fundo Esperança, com carência de seis meses para microempreendedores. Nobre, mas sem relatórios de impacto pós-2022.

Esses pedidos seguem o mesmo script: mensagem genérica do Palácio, comissões da ALEPA dão aval técnico em horas, e plenário aprova por aclamação. Deputados como Lívia Duarte (PSOL) gritam “sem precedentes!”, mas são voz solitária. Rogério Barra (PL) ironiza: “R$ 22 bi em dívidas – parabéns, Pará, sede da COP30 com cheiro de endividamento”. A crítica é unânime na oposição: falta transparência. Justificativas vagas, sem anexos de projetos ou estudos de viabilidade. É o “governo do faz de conta”, onde a ALEPA carimba sem questionar, e o eleitor paga a fatura em impostos futuros. Helder, reeleito com 70% em 2022, joga no fácil: endivida para inaugurar, posa para foto, e sumirá quando chega a prestação fatura.

O Eco Municipal – Normando, o Aluno Aplicado

Eis que chega Igor Normando, o pupilo fiel, replicando o manual Barbalho na escala mini. Seu pedido de R$ 500 milhões? Um mini-R$ 4 bi, com a mesma dose de mistério. Aprovado pela Câmara como se fosse extensão da ALEPA, sem debate acalorado ou emendas detalhistas. Aliados como John Wayne (MDB), presidente da Casa, garantem: “É para o bem da cidade”. Mas qual bem? Sem lista de obras, é especulação pura.

A relação é óbvia: Normando foi secretário de Helder, herda a máquina MDB e o estilo “peça e receba”. Enquanto Helder endivida o estado para “universalizar o saneamento” sem mostrar os canos, Normando pede meio bi para “infraestrutura urbana” sem dizer quantas praças. Crítica? Dupla. Primeiro, perpetua a cultura do sigilo, onde fiscalização vira piada – quem audita o destino? O TCE-PA, tem a própria esposa do governador dentre os conselheiros, que aprova contas de Helder por unanimidade? Segundo, ignora lições: com R$ 21 bi estaduais, o Pará tem rodovias pela metade e creches fantasmas. Belém, com seu rombo herdado de R$ 50 mi deixado por Edimilson Rodrigues, não precisa de mais dívidas opacas; precisa de prestação de contas.

Normando, ao copiar o chefe, transforma a Câmara em carimbadora júnior, traindo o voto de quem esperava mudanças pós-Edmilson.

Enquanto Helder posa como eco-herói na COP30, Normando afunda Belém em buracos – literais e figurados. Se transparência fosse moeda, ambos estariam falidos.

Em resumo, esse empréstimo de R$ 500 mi não é só um erro na forma como foi captado; é sintoma de um sistema viciado, onde prefeitos e governadores pedem fortunas sem recibo, e legislativos aplaudem. Belém merece mais que promessas; merece olhos abertos. Senão, o próximo capítulo será: “Como pagamos essa farra?”.

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